segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Olhai para o que dizemos e esqueçam tudo
o que fizémos, o que fazemo e o que faremos

O presidente da República há 31 anos, do MPLA e chefe do Executivo angolano (para além de outros cargos), José Eduardo dos Santos, deu hoje posse ao novo Governo e reafirmou a sua aposta na "tolerância zero" aos actos ilícitos na administração pública.

Eu vou esperar sentado para ver se nos próximos dez anos (sei que estou a ser optimista) a "tolerância zero" sai do papel em relação aos donos dos aviários e não, como é habitual, no caso dos pilha-galinhas.

Para já, com a determinação que os angolanos de segunda e terceira bem conhecem, Eduardo dos Santos vai avançar com a Lei da Probidade Administrativa. Que se cuidem os Estados de Direito e as democracias...

Assim, essa lei “define os deveres e a responsabilidade e obrigações dos servidores públicos na sua actividade quotidiana de forma a assegurar-se a moralidade, a imparcialidade e a honestidade administrativa".

Alguém acredita? Alguém está interessado? Acreditarão nisso os 68% (68 em cada 100) dos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome?

Acreditarão nisso as 45% das crianças angolanas que sofrem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?

Se calhar não acreditam. Mas acredita José Eduardo dos Santos, calculando que com a Lei da Probidade Administrativa Angola passará para o pódio no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, e no qual Angola está na posição 158.


Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos aqueles que sabem que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa os que sabem que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões?

Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos os que sabem que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

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