O Bispo de Viseu (Portugal), D. Ilídio Leandro, afirmou em Maio do ano passado, a propósito do 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que «há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não da verdade». Mas será mesmo assim?
É mesmo assim em muitos casos, embora existam importantes excepções. O bispo deveria ter acrescentado que, por sua vez, os directores estão ao serviço dos patrões (políticos e ou económicos) e não da verdade.
As declarações do Bispo de Viseu são graves. Haverá consequências?
São graves mas tudo vai ficar, vai continuar, na santa paz de... Deus. O jornalismo em Portugal atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito que já ninguém se preocupa. Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e apenas é mais uma linha de enchimento comercial.
Mas em Portugal existem organismos com responsabilidade no sector...
Existem do ponto de vista formal que mais não é do que uma forma de fingir que Portugal é um Estado de Direito. Aliás, basta esperar para ver que tanto o Sindicato dos Jonalistas como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social vão fechar-se em copas, como se nada se passasse.
A situação descrita pelo Bispo é nova?
Não. Não é nova embora se tenha agravado com o advento da “ditadura” democrática do governo socialista de José Sócrates. Em alguns círculos, nomeadamente em blogues de jornalistas, o assunto tem sido passado a pente fino, embora – reconheço – sem resultados práticos.
Subentende-se então que é uma situação que assim vai continuar?
Exactamente. Vai continuar a agravar-se e até mesmo algumas vozes sonantes, como a do Bispo de Viseu, tenderão a calar-se porque ninguém gosta de pregar no deserto. Além disso, mesmo dentro da classe dos jornalistas, a tendência é passar a pensar com a barriga, o que significa que para sobreviver o melhor é comer e calar.
A ser assim, é a própria liberdade de expressão que está em risco...
Na maioria dos casos a liberdade de expressão já foi à vida, dir-se-ia que a bem da Nação. E, ao que parece, ninguém repara que a própria democracia está inquinada e pode finar-se a qualquer momento.
Então o próprio jornalismo está condenado?
Está condenado. Para além de terem de comer o que lhe querem dar e calar para manter o emprego, os jornalistas estão a ser transformados em meros produtores de textos de linha branca aos quais as empresas apenas colam o rótulo que mais conveniente for.
Isso significa vender gato por lebre?
Mais do que isso. Significa vender gato por qualquer coisa que dê dinheiro, seja lebre, canguru, preguiça ou até mesmo frango. É, aliás, uma forma de pôr os jornalistas ao serviço da “verdade” oficial ditada nas “offshores” da manipulação das massas.
Os órgãos de soberania, nomeadamente o governo, não podem fazer nada?
Poder, podiam. Mas não fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.
Então não há mesmo solução?
Há. Não creio que a solução passe por Portugal mudar de povo. Mas tenho a certeza de que passa por Portugal mudar de políticos. Assim os portugueses tenham, como noutros tempos, tomates para o fazer.
Mudar só os políticos?
Não. Há também muitos “empresários” que deveriam ser apenas trolhas (sem ofensa para estes) e muitos “jornalistas” que deveriam aprender a contar até 12 sem terem de se descalçar.
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