quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Donos dos jornalistas e donos dos donos...

Segundo o director do Sol, José António Saraiva, foi da boca de José Sócrates que ouviu a afirmação de que «a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os patrões».

Aqui na casa, usei pela primeira vez no dia 30 de Abril de 2009, a expressão sinónima da que é agora atribuída a José Sócrates: “donos dos jornalistas e donos dos donos dos jornalistas”.

O texto em questão tinha o título
Dia Mundial da Liberdade de Imprensa para comemorar algo que já não existe!

Não é que seja preciso, nem para memória futura (que é coisa que se hoje não existe no futuro será apenas uma mera recordação), mas com a habitual paciência dos leitores do Alta Hama, transcrevo o artigo em questão:


Portugal (e não só) vive saturado de (des)informação e não há Dia Mundial da Liberdade de Imprensa que lhe valha. E não há porque aos jornalistas (penso, quero ainda pensar, que são eles que fazem a informação) restam duas opções: serem domados e manter o emprego ou o inverso.

É claro que, domingo, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (repugna-me comemorar uma coisa que não existe), veremos toda a espécie de gentalha (desde os que trocam jornalistas por fazedores de textos aos políticos que lhes dão cobertura) dizer que são a favor do direito universal à liberdade de expressão.

Se calhar, com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até veremos alguns dos carrascos a recordar que os jornalistas têm sido assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.

Aliás, estou mesmo à espera de ver muitos dos que amordaçam os jornalistas aparecerem na ribalta com a bandeira da liberdade de expressão.

E se até agora o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu um notório e inédito contributo: os despedimentos.

E até veremos alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há três anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.

Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos do reino. E a resposta não se fez esperar: Jornalista bom é jornalista desempregado.

Nos últimos cinco anos, pelo menos 181 jornalistas das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).

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