A maioria dos portugueses inquiridos num estudo da SEDES considera que as decisões dos governantes não reflectem as preferências dos eleitores, uma conclusão que o presidente desta associação considera "uma prova de vivermos numa democracia madura".
Se madura significa estar quase a cair de podre, então estou de acordo.
Três em cada cinco inquiridos discordam das noções de que os governantes tomam muitas vezes em conta as opiniões dos cidadãos, de que o governo é influenciado pelas preferências dos eleitores, de que os políticos se preocupam com o que eles pensam ou de que se preocupam com outra coisa além dos seus interesses pessoais.
É claro que os governantes, estes e os outros, os outros e estes, se estão nas tintas para os cidadãos, salvo em época eleitoral. Na política “made in Portugal” os seus actores estão para se servir e não para servir. É pena, mas é a verdade. É, aliás, meio caminho – entre outras coisas – para o fim da própria democracia.
Mas o maior problema revelado no estudo "A Qualidade da democracia em Portugal", que até surpreendeu o próprio autor, é o acesso à justiça e a igualdade perante a lei, que os inquiridos fizeram uma avaliação muito negativa.
Em média "mais de dois em cada três eleitores" consideram que diferentes classes de cidadãos recebem tratamento desigual em face da lei e da justiça" e "a maioria" sente-se desincentivada a recorrer aos tribunais para defender os seus direitos.
É verdade. Cada vez mais há portugueses de primeira, de segunda e até de terceira. Apesar disso, os políticos jogam com o que consideram ser uma certeza imutável: os portugueses são um povo de brandos costumes. Até um dia...
"Os portugueses são cidadãos exigentes e querem que as áreas da democracia funcionem melhor", afirmou Luis Campos e Cunha, presidente da SEDES, salientando que o estudo também demonstrou que os portugueses "mais velhos estão mais satisfeitos com a democracia porque conheceram uma alternativa", a ditadura antes da revolução de Abril.
Será? Cá para mim que vou também ouvindo o que dizem os mais velhos, são cada vez mais os que falam de saudades do outro tempo, os que dizem que antes – ao contrário de hoje – eram poucos os que roubavam.
Mais de 80 por cento dos inquiridos discordam que "a justiça trata ricos e pobres de forma igual", 79 por cento discordam que "a justiça trata de forma igual um político e um cidadão comum" e 49 por cento discordam que "os processos judiciais não são tão complicados que não vale a pena".
O trabalho, da autoria de Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, foi apresentado hoje no IV Congresso da SEDES, que decorreu no Instituto para a Defesa Nacional, em Lisboa.
O estudo revela também que uma "clara maioria" dos inquiridos considera que o sistema eleitoral prejudica excessivamente os partidos pequenos e metade deles acha que o sistema não permite responsabilizar os deputados pela sua actuação.
... e assim se faz a história das ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos.
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