Uma "nova visão estratégica da cooperação" no espaço lusófono, na selecção e financiamento de projectos, deverá sair das reuniões da CPLP na próxima semana na Praia, Cabo Verde, afirmou hoje o director de Cooperação da organização. “Nova” significará que já existiu outra?
Continuo, apesar de tudo, a pedir a ajuda dos cidadãos lusófonos para que, caso estejam para aí virados, me dizerem se viram por esse mundo fora alguma coisa concreta que dê pelo nome de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Poderá ser, imagino, um elefante branco ou, quiçá, uma enorme montanha de onde foi parido um ratinho.
Dizem-me, contudo, que estatutariamente é algo de grandioso. Será? Talvez. Pena é que os estatutos não façam, só por si, obra.
A CPLP assume-se, ou assuniu-se, «como um novo projecto político cujo fundamento é a Língua Portuguesa, vínculo histórico e património comum dos oito, que constituem um espaço geograficamente descontínuo mas identificado pelo idioma comum».
Teoria não lhes falta. O problema está em passar da teoria à prática. E se o Instituto Internacional de Língua Portuguesa está, há anos, adormecido (apesar de bem teorizado) no papel, valerá a pena pensar noutros projectos?
Não seria preferível dar um murro na mesa para ver se os oito países responsáveis pela CPLP acordam? Ou, então, fechar para obras?
Se todos sabem que, desde que nasceu, a CPLP está em falência técnica, porque raio a querem manter artificialmente viva?
Mais do que criar organismos, institutos e similares; mais do que sugerir novos projectos (viáveis, mas condenados a uma longa noite de sono nos areópagos políticos dos oito), impõe-se pôr a funcionar a própria CPLP ou, então, reconhecer que confundiram a obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras.
Mais do que uma enciclopédia culinária, pelo menos seis do oito membros desta comunidade precisam de comer alguma coisa, nem que seja em pratos de plástico, nem que seja peixe seco e pirão.
Enquanto não se perceber isso, não há saída. Enquanto não se perceber isso, continuarão os golpes de Estado. Primeiro foi São Tomé e Príncipe, depois a Guiné-Bissau. Mas há mais. Embora a CPLP também aqui esteja a dormir, as razões profundas que levam aos golpes de Estado continuam latentes.
Ou seja, poucos têm milhões e milhões têm pouco (ou nada).
Sejamos sérios. Os projectos não podem ser imputados à CPLP enquanto entidade com oito membros. A CPLP não pode reivindicar para si o somatório dos projectos individuais, ou bilaterais, levados a cabo por um ou mais dos seus signatários.
Recorde-se que, segundo a sua constituição, a CPLP tem como objectivos gerais «a concertação política e a cooperação nos domínios social, cultural e económico, por forma a conjugar iniciativas para a promoção do desenvolvimento dos seus povos, a afirmação e divulgação crescentes da língua portuguesa e o reforço da presença dos oito a nível internacional».
Pelo andar da carruagem (boas ideias que ficam no papel), corremos o risco de ver a Lusofonia substituída pela francofonia ou por outra qualquer fonia. E se calhar até não seria mau.
1 comentário:
E talvez seja mesmo nova.
Antes a sigla significava Com Países Limitados (por) Portugal; agora com a cada vez maior influência do Brasil devreá chamar-se Com Países Livres (de) Portugal!
Kdd
Luís Kamutangre
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