Começam, como é natural em Portugal, as enxurradas de críticas à candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República. Se ele ganhar, como espero e desejo, grande parte (talvez até a totalidade) dos seus críticos vai dizer que sempre esteve com ele. O nanismo intelectual, que sobra em Portugal, é mesmo isso.
O Alto Hama apoia Fernando Nobre porque os portugueses têm de deixar de ser “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.
O Alto Hama apoia Fernando Nobre porque os portugueses têm de deixar de ser “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.
O Alto Hama apoia Fernando Nobre porque em Portugal tem de deixar de existir “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”.
O Alto Hama apoia Fernando Nobre porque em Portugal é preciso acabar com “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto defazer dela saca-rolhas”.
O Alto Hama apoia Fernando Nobre porque em Portugal têm de acabar os “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
Nota: As expressões entre aspas são de Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.
4 comentários:
Grande texto Orlando e muita sabedoria. Deixo aqui um bom esclarecimento também...
Quanto à candidaura de Dr. Fernando Nobre, vale a pena ler ISTO e reflectir!...
Obrigada Orlando, meu mensageiro de eleição! :)
Orlando, surripiei-lhe o Link.
Obrigada... a mensagem é para fazer circular... desculpe. :))
Meu caro
Vou fazer, um pouco, o papel, o difícil quanto aborrecido papel de advogado do Diabo. vais aparecer, perante certas sensibilidades - embora saiba que é para onde estás mais virado - como o angolano por Cabinda aapoiar um angolano que é só líder de uma Associação que defende a separação de Cabinda.
Pulhicitique aguda em Portugal, é...
Mas, reconheçamos este tiro vai sair pela culatra a muita boa gente. E bem merecem o estoiro naquelas ventas (devido respeito aos animais, salvo seja)
Um grande e fraterono kandandu
Eugénio Almeida
E não é que acabei de escrever, num comentário o mesmo termo do EL CALmeida, do tiro na culatra neste preciso momento?! Eu ando aí pelos blogues a deambular e noto as pessoas a rejubilar, os atingidos... paciência! :)
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