segunda-feira, julho 06, 2009

Campanha eleitoral faz o PSD curar-se
da amnésia que cultivou durante anos

Nada melhor do que haver eleições para que a memória dos partidos, neste caso portugueses, seja estimulada. Passam anos com amnésia e, de repente, lembram-se de (quase) tudo o que lhes interessa.

O PSD, por exemplo, parece ter começado a ter memória. Creio que é um pouco tarde mas, como bem dizem os súbditos de sua majestade lusitana, mais vale tarde do que nunca.

Veja-se, por exemplo, que só no passado dia 13 de Maio é que o maior partido da Oposição descobriu que havia aproveitamento da crise por parte de empresários para despedir trabalhadores, considerando esse aproveitamento de “gravíssimo”. Também nesse dia o PSD lembrou-se da importância dos sindicatos.

O calendário do PSD (entre muitas outras coisas) anda visivelmente atrasado e, pelos vistos, só agora notam que há uma subespécie de empresários (por sinal bem anafados e alaranjados) que despedem trabalhadores ao mesmo tempo que engordam o seu pecúlio particular.

Quanto aos sindicatos, importa recordar que, quando há bem pouco tempo o sindicato e alguns trabalhadores vítimas desses tais anafados e alaranjados, pediram ajuda ao PSD, este fechou-se em copas.

Eu sei que a memória é curta. Mas o PSD está a julgar que afinal não há memória.

Na altura, Maio, em declarações à Agência Lusa, o deputado Hugo Velosa, vice-presidente da bancada parlamentar social-democrata, considerou que essas situações não são resultado de uma falha na legislação, mas sim um “aproveitamento inaceitável por parte de pessoas que nem merecem ser chamadas de empresários”.

Bravo! Como diriam os trabalhadores despedidos a quem o PSD fechou as portas, estas afirmações partem de pessoas que “nem merecem ser chamadas” de políticos.

O deputado social-democrata comentava uma entrevista à Lusa do bispo D. Carlos Azevedo, em que o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social considerava “desonestos” os empresários que fazem despedimentos embora as suas empresas estejam em boa situação económica.

“É uma situação gravíssima, mas este país tem leis, e quem tem que fiscalizar o funcionamento e o cumprimento das leis nesta área é o governo, para alem da denúncia que têm de fazer os sindicatos, que representam o mundo laboral”, referiu Velosa.

Hugo Velosa disse ainda que o PSD tem acompanhado “atentamente” esta situação, mas colocando a tónica na fiscalização e na denúncia dos casos.

Aldrabice pura e alaranjada. O PSD tem nesta matéria, e não só, confundido a beira de estrada com a estrada da beira.

Quanto às afirmações de D. Carlos Azevedo sobre a classe política, acusando-a de fugir à discussão dos principais assuntos e de ser incapaz de fazer as reformas necessárias, Hugo Velosa disse que o PSD não partilha dessa “visão tão negra” da actividade política.

O PSD pode não partilhar dessa visão de D. Carlos Azevedo. Pode, contudo, ficar com a certeza de que a visão dos portugueses é ainda bem mais negra.

“Não é solução dizer que são os políticos que têm culpa única ou exclusiva da situação que o pais vive, mas sim toda uma evolução que a sociedade tem tido, em que todos os agentes económicos e sociais, incluindo a Igreja, estão envolvidos”, afirmou o deputado do PSD que, como os seus restantes companheiros de bancada, certamente não tem tempo para conhecer o país real.

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