O mercado da comunicação social em Angola expandiu-se nos últimos dois anos, tornando-se atractivo tanto para os grupos internos como estrangeiros, com especial destaque para os portugueses, que têm desenvolvido vários novos projectos.
Nos últimos anos, novas empresas angolanas multiplicaram os veículos de imprensa existentes em Angola. O primeiro a iniciar a nova expansão foi o semanário Novo Jornal, lançado no início de 2008 pelo grupo New Media, que é detido em 30% pela ESCOM (do grupo Espírito Santo) e que traçou como objectivo tornar-se uma referência no país.
Também o grupo Score Media se propôs tornar-se uma referência no mercado, tendo lançado, em parceria com a portuguesa Económica - dona do Semanário e Diário Económico -, o jornal de economia Expansão.
O que é que tudo isto significa? Desde logo e sobretudo, ou mesmo apenas, a pujança económica de Angola. Todos este projectos são encarados como mera actividade comercial, ao mesmo nível de quem vende ou comercializa cerveja, móveis, roupas, automóveis ou mulheres.
A velha perspectiva de os órgãos de comunicação social servirem para informar e formar, para dar voz a quem a não tem, há muito que morreu.
Os jornais (é claro que também as rádios e as televisões) não são um produto feito à medida dos jornalistas e/ou dos cidadãos mas, isso sim, dos empresários. São, cada vez mais, um negócio ou, melhor, uma forma de comércio. São apenas mais um produto em que os seus fazedores (na circunstância catalogados de jornalistas) são escolhidos à e por medida.
Ou seja, basta ter dinheiro para ser dono de um jornal, basta ter um jornal para lá mandar pôr o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.
Os jornalistas, mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender, vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas.
Os jornalistas são os montadores que, de acordo com o mercado, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo para que este ganhe as próximas eleições, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.
Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar no trabalho infantil.
Se o que vende é dar cobertura às ditaduras (sejam as de Robert Mugabe ou José Eduardo dos Santos), são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos.
Pouco importa tudo o resto.
Assim sendo, as linhas de montagem (em Angola como em Portugal) não precisam de jornalistas 24 horas por dia, basta-lhes sete horas. E aos jornalistas basta-lhes, ao que parece, uns tantos euros, dólares ou kwanzas por mês...
Tudo o resto são cantigas, tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal, Burkina Faso ou Angola.
E quando alguns dos fazedores desse produto comercial a que se chama comunicação social, reivindicam o papel de jornalistas, entram logo um funcionamento os chamados critérios editoriais de carácter jornalístico.
E o que é que isso é? É um patamar de decisão ao qual têm acesso privilegiado todos aqueles que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc. e que visa dar cobertura, a troco de apoios financeiros, aos dono de uma sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.
Se o Jornalista não procura saber o que se passa é, foi assim que aprendi com os mestres, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso. Algo parecido se aplica hoje? Não. O jornalista só deve saber o que interessa à empresa.
Será por tudo isto que são cada vez mais os que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo há cada vez mais imbecis e criminosos?
Também aprendi com os mestres que o “produto” jornalístico tinha obrigatoriamente de ser uma referência de credibilidade e não, como agora acontece, uma correia de transmissão de interesses cada vez menos claros.
Hoje, em Angola como em Portugal (por exemplo), a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar, e mesmo assim...), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.
Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.
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