segunda-feira, março 24, 2008

De um violino de lata (Artur Queiroz)
a um Stradivarius (Eduardo Agualusa)

Para que não fiquem dúvidas, considero que comparar José Eduardo Agualusa com Artur Queiroz, seja no que for, é como comparar um violino feito com latas de sardinha a um Stradivarius.

Artur Queiroz, um andrógino intelectual que sempre esteve do lado dos mais fortes (ou que assim pareciam) continua a sua senda a favor dos que, hoje como ontem, mais lhe pagam. Pagaram-lhe e ele descobriu que o holocausto do 27 de Maio não passou de uma “revolta de racistas” onde terão morrido (se calhar um dias destes ainda aparece a dizer que ninguém morreu) meia dúzia de facínoras.

Queiroz insurge-se num artigo publicado no “Jornal de Angola” (onde mais poderia ser?) contra o facto de Agualusa ter dito, embora sem referir nomes, que há torturadores angolanos que são tratados em Portugal como grandes escritores. Embora saiba muito bem a quem se referia Agualusa (Pepetela, por exemplo, participou no massacre de 27 de Maio de 1977 e, quer se queira quer não, tão responsável é o que puxa o gatilho como aquele que participa na farsa acusatória), Queiroz infere que é legítimo “presumir que todos os grandes escritores angolanos se dedicam à tortura”.

“Quando algum leitor estiver na presença de um desses escritores vai pensar que está a ver e ouvir um torturador”, diz Queiroz do alto da sua cátedra feita de toneladas de sabujices. E tem razão. Olhar para Pepetela é olhar – no mínimo - para um torturador.

“O senhor José Agualusa lançou um manto de calúnia sobre todos os seus confrades o que é muito grave. Mas mais grave foi ter dado a bofetada e escondido a mão. Como não nomeou os torturadores, ninguém pode defender-se de tão grave acusação. No tempo em que os animais não falavam, isto era cobardia. E um cobarde vale tanto como os seus gestos repugnantes”, escouceia Queiróz para justificar o prato de lentilhas.

Agualusa não escondeu a mão. Basta ler o que ele tem dito e escrito e não apenas ou que nos interessa ler. Se há meia dúzia de pessoas que têm dado o nome aos bois, Agualusa é uma delas, mesmo que isso não agrade aos capatazes do sipaio (sem ofensa para estes) Artur Queiroz .

Agualusa é um exemplo de que se pode ser preso por ter cão e por não ter. Reproduzindo a encomenda, Artur Queiroz volta depois os cascos para o alvo, dizendo que deste vez foi cometido um crime de lesa MPLA por terem sido dados os nomes.

“Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto”, afirmou e bem Agualusa.

Porque o visado já não está no reino dos vivos, Artur Queiroz entende que “a cobardia aqui assume a dimensão de um assassinato de carácter o que faz de Agualusa uma figura com todos os predicados para entrar na minha lista pessoal dos leprosos morais”. Na lista dos “leprosos morais” se, entretanto, não for possível enquadrá-lo num outro qualquer 27 de Maio, entenda-se.

Dado o meu contributo para que Artur Queiroz recolha mais alguns cobres junto dos chefes de posto, resta-me dizer que se o valor do José Eduardo Agualusa se medisse pelo nível (seja intelectual, profissional, humano, cultural ou qualquer outro) dos seus inimigos, o Artur Queiroz amesquinhava-o de uma ponta à outra.

1 comentário:

David R. Oliveira disse...

Em relação a essa abencerragem com certeza tenho aqui a prova da imensidão criadora - a veia poética em todo o seu esplendor. Um livrinho que trouxe com mais de 34 anos edição das Edições Convivium de Benguela. Quando esse camarada infiltrado para lá foi executar a função secreta -. juntar-se à presumida casta intelectual e influenciar.
Acho que devemos estar a falar de um tipo que aqui há duas décadas ainda era jornalista do JN, não é?
Mas para lhe aguçar o apetite vou enviar-lhe um cheirinho poético da trampa que então o rapaz publicava. De certeza que nem para juntar aos papéis escritos que o Agualusa escreve e de que não gosta atirando-os para a sarjeta.

Aí vai (como gosto de recordar!)

IX

Noite. Ilusão sensorial.
maravilha criada pelos olhos.

O negro. O belo. A poesia
de bêbados que cantam salmos
Poetas que bebem amor.

Ilusão maravilhosa
Oh, ilusão dos meus sentidos!

A noite! A solidão! A verdade!
A realidade dos burgueses que dormem
porque não têm olhos para a noite!

Desculpe lá não resisto...a esta merda chamava ele de POESIA.
David Oliveira