Ali Alatas, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do ditador Suharto, morreu ontem aos 76 anos. Chefiou a diplomacia da Indonésia de 1988 a 1999 e foi fugura central do processo que levou à independência de Timor-Leste.
Ali Alatas conduziu as negociações com Portugal para a independência de Timor-Leste e quando a 3 de Junho de 2004 participou, em Lisboa, na conferência sobre as relações euro-asiáticas afirmou que esse período "foi um dos mais difíceis" de toda a sua carreira diplomática.
Porquê? "Porque tinha de conduzir a diplomacia em dois sentidos: perante Portugal e as Nações Unidas e perante o meu Governo", explicou Ali Alatas.
Na altura, ao apresentar o então conselheiro da Presidência indonésia, Ana Gomes (ao tempo embaixadora de Portugal em Jacarta), contou que logo na primeira reunião que mantiveram, dois dias depois de chegar à capital indonésia para reabrir a secção de interesses de Portugal (31 de Janeiro de 1999), pôde "testemunhar a extraordinária qualidade do diplomata Ali Alatas".
Havia nesses dias uma perplexidade geral ante a inesperada declaração do presidente Yussuf Habibi, admitindo um referendo sobre a autodeterminação de Timor-Leste, o que alterava radicalmente a posição negocial indonésia, e Ali Alatas demonstrou, segundo Ana Gomes, ser "um grande político com fina visão estratégica e com completa noção das implicações a longo prazo" dessa mudança de posição.
Ana Gomes destacou a atitude que o diplomata indonésio adoptou ao longo de todo o processo negocial até à assinatura do acordo de 5 de Maio de 1999 - estipulando a realização do referendo em Timor-Leste sob a égide da ONU -, sobretudo em relação aos sectores indonésios descontentes, "dando a cara, segurando todas as pontas e evitando que lhe fosse tirado o tapete".
Ali Alatas voltou a ter "um papel histórico" quando, após o referendo, persuadiu Habibi a aceitar o envio de uma força internacional da ONU para Timor-Leste (INTERFET), e conseguiu "explicar ao povo indonésio que perder Timor não era nenhum drama".
"Ali Alatas foi insubstituível", afirmou a ex-embaixadora, explicando que só uma pessoa com a "autoridade e o respeito" que granjeou "poderia acalmar as emoções" que então atravessaram determinados sectores da sociedade indonésia e impedir que os opositores da independência levassem a melhor.
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1057906
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