segunda-feira, dezembro 15, 2008

Divagações sobre jorna(lismo)

O jornalista angolano Ismael Mateus defende a obrigatoriedade do curso superior de jornalismo a quem desejar exercer a profissão. Mas será o curso condição sine qua non para se ser jornalista? Claro que não.

“Qualquer um agora quer ser jornalista, até mesmo aquele que concluiu apenas a quarta classe. Quando vê que não consegue emprego vai ao Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR), faz um curso básico e já é jornalista”, disse Ismael Mateus.

É claro que assim não se vai lá. Mas, como também sabe Ismael Mateus, há muita gente com o canudo que deveria ser sapateiro, e muitos sapateiros que até dariam bons jornalistas.

Isto porque nas Faculdades onde são dados cursos de jornalismo (alguns dos quais até misturam comunicação social com marketing e com publicidade) raramente se ensina o essencial, isto é, a pensar com a própria cabeça.

A maiorio dos diplomados em jornalismo aparece nas Redacções com uma sólida capacidade técnica de pensar como pensam os chefes, como “pensa” a verdade oficial, como “pensa” o dono da empresa.

Estas “qualidades” adquiridas nas Faculdades são vitais para conseguir um emprego, mas são supérfluas para o Jornalismo onde o essencial é dar voz a quem a não tem (coisa que raramente convém aos donos do poder, seja ele qual for), é entender que dizer o que se pensa ser a verdade é o melhor predicado dos Jornalistas.

No debate organizado pelos finalistas do curso de Comunicação Social da Universidade Privada de Angola (UPRA), Ismael Mateus disse que há no país um ensino superior de jornalismo, onde se assiste a uma descoordenação e ausência de qualquer controlo de qualidade. Por isso, defendeu a existência de um conselho superior técnico para a avaliação dos conteúdos programáticos e das cadeiras técnicas que são ministradas.

A ideia é boa. O busílis está no facto de, cada vez mais, o jornalismo ser uma mera actividade comercial, similar à venda de sabonetes, e não uma nobre participação na formação das sociedades.

Cada vez mais o jornalismo não existe para trabalhar para os milhões que têm pouco, ou nada, mas sim para trabalhar para os poucos que têm milhões e que são, reconheça-se, os que fazem com que as empresas jornalísticas se aguentem.

Ismael Mateus lamentou o facto do país não conceder ainda aos jornalistas a Carteira Profissional e disse que nenhuma empresa devia admitir ou manter no seu seio jornalistas que não possuam uma carteira.

Só é pena, como também muito bem sabe Ismael Mateus, que muitos dos que têm Carteira Profissional precisem de se descalçar para contar até 12.

2 comentários:

Gil Gonçalves disse...

O que o Ismael Mateus tem de chato, é que joga sempre dos dois lados. Quando quer chupar alguma coisa do 8164, fala mal dele. Ou então usa agora esta estratégia do curso superior de jornalismo, para afastar os colegas que não interessam ao 8164. Claro que lhe vão pagar alguma coisa.
Agora... num país de analfabetos, com energia eléctrica a fingir... exigir o curso superior... tá claro... os do 8164, por acaso todos têm o curso superior de jornalismo, comprado.
Ah! Ismael, Ismael, pobre Ismael

Anónimo disse...

Aqui no Brasil tambem existe uma discussão sobre o diploma de jornalista. Como jornalista diplomado e profissional, sou a favor da obrigatoriedade do diploma, pela ética profissional. É minha primeira visita a este blog e afirmo que gostei muito. Parabéns. Abraços.