segunda-feira, dezembro 15, 2008

Sobre Angola, Cuba continua a contar
apenas a história que mais lhe convém

O Presidente cubano, Raúl Castro, anunciou a realização de um novo filme sobre a sua versão da guerra em Angola, dois meses depois de outra película sobre o mesmo conflito, "Kangamba", ter estreado em Cuba, noticiou hoje o diário estatal Granma.

A referência ao filme veio a propósito do trabalho que os cooperantes cubanos levam presentemente a cabo na Venezuela, com Raúl Castro a recordar as "missões internacionalistas em Angola e noutros países" e inquirindo-os se tinham visto "Kangamba”.

E que missões. Em Angola roubaram tudo quanto foi possível, violaram tantas mulheres quantas conseguiram, mataram a torto e a direito homens, mulheres e crianças. Homens, mulheres e crianças que, segundo a tipologia oficial do regime que vai somar mais quatro anos aos 33 que já leva a desgovernar Angola, não eram pessoas e muito menos angolanos. Eram kwachas.

O filme "Kangamba”, do cineasta cubano Rogelio Paris, estreou em Outubro passado, em 288 salas espalhadas por todo o país, e baseia-se nos combates registados em 1983, envolvendo tropas do MPLA e cubanas contras as forças anti-governamentais da UNITA, apoiadas pela África do Sul.

Na sequência da saída de Portugal de Angola, os três movimentos nacionalistas angolanos, MPLA, FNLA e UNITA, envolveram-se numa sangrenta guerra civil, que ditou a expulsão da capital, Luanda, da FNLA e da UNITA. E do MPLA de quase todas as outras cidades, acrescente-se.

O MPLA, apoiado por dezenas de milhares de combatentes cubanos e de outras nacionalidades (entre as quais portugueses), enfrentou depois uma prolongada guerra movida pela UNITA, que contou com apoio sul-africano e que passou por violentos confrontos, designadamente os ocorridos no Cuito Cuanavale, província do Cuando-Cubango.

Num texto publicado no Granma, no passado dia 30 de Setembro, o líder cubano Fidel Castro considerou que "o drama" da batalha de Cuito Cuanavale, quatro anos depois da de Kangamba, resultou do que considerou uma "estratégia soviética errada".

"O próprio drama que se viveu foi consequência de uma estratégia soviética errada na assessoria do alto comando angolano", escreveu Fidel Castro na reflexão publicada no passado dia 30 de Setembro, dias antes da estreia de "Kangamba".

Na ocasião, Fidel Castro apelou à realização de um novo filme "ainda mais dramático que Kangamba", um dos filmes "mais sérios e dramáticos" que teve oportunidade de ver.

Urge, portanto, que alguém ouse fazer um filme com a outra parte da história, a tal que inclua as não pessoas, os não angolanos, os kwachas (aos quais, aliás e com gosto, pertenço).

1 comentário:

Anónimo disse...

As verdades sobre Angola, podem-se ler no livro LONGE É A LUA, Memórias de Luanda-Angola.
Comprei este livro, relata de forma impressionante quer a famosa descolonização levada para Angola pela tropa fandanga abrileira, quer a cruel guerra, provocada pelo MPLA e pelas tropas estrangeiras( cubanas) em Angola, para que este se impusesse como dono do território e do seu povo,até hoje, e já lá vão 33 anos como pretende qualquer ditador que se preze.
Livro impressionante e emocionante, escrito com coragem, por uma das vítimas e toda a sua família e testemunhas dos acontecimentos funestos em Angola.