O líder do novo partido sul-africano, Congresso do Povo, considerou hoje que a intimidação e o medo, idênticos «aos que se viviam na era de John Vorster e P.W. Botha», regressaram a «vastos sectores da sociedade».
Mosiua Lekota falava na abertura da primeira conferência do Congresso do Povo, que reúne cerca de 3.400 delegados de todas as províncias sul-africanas na cidade de Bloemfontein, onde nasce oficialmente o novo partido político fundado por dissidentes do ANC.
A conferência, que deverá discutir e aprovar os estatutos e programa de acção da formação, abriu com a garantia de que o partido se designará por Congresso do Povo (Congress of The People, com a sigla Cope no original).
O tribunal de Pretória rejeitou sexta-feira uma moção do ANC, partido no poder na África do Sul, na qual pedia que o novo partido não fosse autorizado a registar o nome e a reclamar direitos históricos sobre o Congresso do Povo, uma reunião de activistas anti-“apartheid” realizada em 1955 sob a sua bandeira.
Lekota, que se demitiu do ANC na sequência do afastamento da presidência de Thabo Mbeki, em Setembro, sendo seguido por centenas de dirigentes superiores e intermédios, acusou o partido no poder de perseguir e intimidar todos aqueles que não concordam com a nova liderança de Jacob Zuma, ao ponto de os quadros do partido e do governo viverem diariamente com medo de falarem e discutirem ideias uns com os outros.
“Homens e mulheres com quem um dia convivemos e trocámos anedotas são agora forçados a olhar para o outro lado quando por acaso se cruzam connosco nos corredores dos Union Buildings (sede do governo em Pretória), porque se arriscam a perder os empregos se forem considerados nossos amigos”, declarou Lekota perante os delegados.
Para Bloemfontein - capital da província do Free State e sede do Tribunal de Apelação da África do Sul - o ANC marcou entretanto uma manifestação e comício para terça-feira, coincidindo com o último dia de trabalhos da conferência do Congresso do Povo.
O comício deverá contar com a participação de Jacob Zuma, líder do ANC que se refere em discursos públicos aos três principais dirigentes do novo partido (Mosioua Lekota, ex-ministro da Defesa e secretário-executivo do ANC, Mluleki George, ex-vice-ministro da defesa, e Mbhazima Shilowa, ex-chefe do executivo provincial de Gauteng) como “o bando dos três”.
Reagindo hoje na conferência à marcação do comício do ANC para a mesma cidade no dia de encerramento dos trabalhos, um dos mais destacados dirigentes do Cope, Phillip Dexter (também ele um dissidente do ANC) afirmou que o partido não está preocupado com o que muitos consideram “um acto de provocação”.
“Não estamos preocupados, eles que continuem”, disse Dexter.
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