domingo, dezembro 14, 2008

E o Instituto Camões a vê-los passar...

Independência, juventude e descentralização na gestão são os grandes trunfos do Instituto Cervantes, segundo a sua directora, que admite a sorte de quem tem de promover no mundo a língua espanhola, falada em 22 países.

Em entrevista à Lusa em Madrid, Carmen Caffarel descreve uma instituição a viver um dos seus melhores momentos de sempre, com projectos significativos em vários países, um orçamento anual de cerca de 100 milhões de euros e uma experiência de 17 anos no campo da difusão da língua e da cultura espanholas.

“Temos uma grande sorte como instituição. O nosso próprio idioma, falado em 22 paíse, dá-nos muitíssima força”, sublinha.“A língua e a cultura são a melhor embaixada que temos”, defende.

“O facto de a política ser a difusão da língua mas, ao mesmo tempo, de mostrar a riqueza cultura de Espanha e dos hispano-falantes, ajudou muito o Cervantes a ser uma instituição querida, tanto dentro como fora de Espanha”, declara.

Num momento em que está prestes a arrancar uma reforma do Instituto Camões (reforma no sentido de aposentação?)- com sugestões de que o modelo pode adoptar práticas da congénere espanhola -, Carmen Caffarel aceitou descrever a sua instituição.

Descreve um espaço onde a língua e a cultura, “mais do que só receber orçamento do Estado”, contribuem também para a riqueza. “Este governo fez uma aposta forte nesta matéria, partindo do reconhecimento de que a língua não é um bem intangível mas contribui para todas as industriais culturais em Espanha, de livros de estudo aos meios de comunicação, do cinema à literatura”, frisa.

Este impacto é consuquente também no crescente “turismo linguístico” de quem aprendeu sobre Espanha e sobre o espanhol no estrangeiro e opta por visitar o país. “Isso só acontece porque conseguimos convencê-los de que a nossa língua e cultura podem ser interessantes”, diz.

O Instituto Cervantes é responsável pela formação em espanhol no exterior - em situações onde não integre os programas escolares dos próprios países.

É também a instituição que certifica o conhecimento do espanhol como língua estrangeira, conduzindo exames de formato idêntico ao de organizações congéneres como o British Council ou a Alliance Française.

“Mas depois temos muitas políticas conjuntas com os ministérios da Educação ou da Cultura, para tentar, por exemplo, que nos planos de estudo nos países estrangeiros o espanhol esteja nas suas politicas educativas”, afirma.

Com trabalho conjunto, "o espanhol é mais amplamente ensinado", o que leva à formação de mais professores e "suscita maior interesse pela língua”, sublinhou.

Para Carmen Caffarel, a grande força do Cervantes é no entanto o modelo de gestão adoptado para os seus centros espalhados pelo mundo onde, apesar de seguirem um formato “mais ou menos uniforme”, gozam de “muita autonomia”.

“Não é o mesmo agir na África ou na Ásia, na Oceânia ou na América Latina. Por isso os centros têm muita autonomia para gerir a sua actuação, inclusive no tipo de calendário cultural que organizam”, disse.

“Mas as linhas estratégicas mantém-se, apostando no diálogo das civilizações, no diálogo intercultural, no esforço de conseguir mais peso de Espanha na Europa”, sublinha.

Aproveitando o que define como “economia de escala”, o Cervantes maximiza as dinâmicas regionais das suas estruturas, com centros num mesmo país ou região do globo a partilharem actividades culturais ou outras iniciativas.

Numa estratégia materializada ao nível central, o Instituto Cervantes goza de grande independência, apesar das suas ligações aos ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Educação e da Cultura.

“Essa liberdade permite que continue a ter uma linha que permanece além das conjunturas”, sustenta. Envolver as empresas privadas tem sido, também, uma aposta do Cervantes, que considera, para as firmas que se internacionalizam, “ser um bom caminho andar de mão dada com a língua e com a cultura”.

“Nós ajudamos as empresas a formar em espanhol os seus trabalhadores noutros países e damos informação sobre os países onde estamos e que conhecemos e sobre essa fundamental questão do diálogo intercultural”, sustenta. Acima de tudo, é preciso trabalhar sempre “com a consciência de que não se pode chegar a todo o lado” e que, por isso, as acções têm que ser o mais certeiras possíveis.

Será que o Instituto Camões vai aprender alguma coisa? Ou limitar-se-á a ter uns “Magalhães” para enganar, para continuar a enganar, a malta?

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