sexta-feira, dezembro 05, 2008

Rice, George W. Bush e Mugabe
(a ordem dos nomes é arbitrária)

A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, certamente por já estar da malas aviadas, resolveu apelar hoje à demissão do Presidente (mais do que) vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe.

"É tempo de Robert Mugabe partir. Penso que isso é a partir de agora uma evidência", declarou numa conferência de imprensa, qualificando de "farsa" as negociações sobre o acordo de partilha do poder com a oposição, depois de uma "eleição simulada".

Mas então qual foi a gota de água que, no fim de mandato, acordou a mente de Rice?

Vejamos. Segundo Rice, a actual epidemia de cólera no Zimbabué deveria ser um sinal para a comunidade internacional de que é tempo de enfrentar Mugabe.

"Se isto não é prova para a comunidade internacional de defender o que é correcto, não sei o que será. E francamente, as nações da região têm de o fazer", disse a secretária de Estado norte-americana.

Ou seja, os 12 mil casos de cólera (parte dos quais estão a ser tratados em Moçambique) é que fizeram acordar a administração dos EUA.

Menos importante, pelos vistos, é o facto de mais de quatro milhões de zimbabueanos terem fugido do país, fazendo do Zimbabué o maior exportador de refugiados.

Menos importante, pelos vistos, é o facto de a taxa de inflação ultrapassou os 231 milhões por cento anuais, ou o facto de a grande maioria dos estabelecimentos comerciais do país nada terem para vender, ou o facto de mais de cinco milhões de habitantes necessitarem de auxílio alimentar de emergência nos próximos meses.

O facto de a candidata republicana à vice-presidência dos EUA, Sarah Palin, pensar que África era um país, ainda vá que não vá. Mas que Rice se baseie nos casos de cólera para justificar a saída de um ditador que há muito deveria ter levado um tiro na mona, essa fica mesmo ao nível do seu chefe, de nome George W. Bush.

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