Se o o meu livro (“O problema de Cabinda exposto e assumido à luz da verdade e da justiça”) tem algum merecimento, não é, decerto, o seu valor literário ou artístico. De igual modo, não é pelo seu elevado nível científico ou pelo seu maravilhoso e extraordinário conteúdo que poderá obter algum êxito ou proveito.
É apenas o seu modesto contributo à divulgação e promoção da verdade e à busca (realização) da justiça que o povo de Cabinda quer e merece; ou seja, o seu único mérito são os valores que o inspiram e norteiam. Por intermédio deste livro, o Povo de Cabinda, uma vez mais, bate à porta de Portugal. Não para pedir uma esmola ou suplicar um favor, mas apenas para reclamar um direito que lhe assiste e não lhe pode ser negado.
Sabemos que o problema de Cabinda é um tabu para Portugal – o seu governo, as suas elites, a sua juventude. Apesar de tudo, é necessário que a questão seja suscitada, discutida calma e serenamente e as responsabilidades apuradas e assumidas sem preconceitos nem caça às bruxas, acusações ou insultos. Não só em relação a Portugal, mas também no que respeita a Angola e à própria Cabinda.
Esta pretensão decorre apenas da elementar exigência do “honeste vivere, nemine laedere, suum cuique tribuere”: a mais suméria, simples e indispensável racionalidade do direito.
Esta é a mensagem que nos últimos 33 anos, o povo de Cabinda tem tentado transmitir ao povo português. Infelizmente, ao nível de Lisboa, não tem encontrado interlocutor.
Há alguns anos, no limiar do novo milénio, o governo belga apresentou ao Povo da República Democrática do Congo desculpas formais e oficiais pelo seu envolvimento no assassinato de Petrice Lumumba, herói da independência daquele país africano e chefe do seu primeiro governo.
Para Cabinda, não é necessário que Portugal chegue a tanto: A este bastará apenas que proclame a verdade, dê o seu testemunho e ajude a comunidade internacional a encarar essa verdade, aplicando o direito que as regula (tanto a comunidade como a própria verdade ou situação que caracteriza e identifica o problema).
Não exigimos desculpas, nem mesmo as esperamos. Apenas exigimos a assunção da verdade e a realização da justiça, para o bem de todas as partes: De Cabinda, é verdade; mas também de Angola, de Portugal e da própria comunidade internacional, apostada em promover e garantir a democracia, favorecer o desenvolvimento e preservar a paz e a segurança internacionais, assegurando a igualdade de todos os povo, grandes e pequenos, fazendo respeitar os seus direitos e permitindo a realização das suas justas aspirações.
Cabinda é o único povo do planeta a quem é negado, sistemática e terminantemente, a compreensão, a amizade e a solidariedade. O único povo cujos direitos são calcados aos pés pela comunidade internacional. O único que, contra o direito e a lógica, é empurrado para soluções extremas, paradoxalmente, aquelas que são unanimemente condenadas e combatidas. Será que se quer um pretexto para eliminar os cabindas da face da terra?
Depois de 33 anos de mortes, é necessário que venha a ressurreição. É forçoso virar a página.
Nota: Artigo de Francisco Luemba publicado em:
http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21607&catogory=Manchete
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