quarta-feira, outubro 08, 2008

Pelos bons serviços ou mera coincidência?

Luís Castro, jornalista enviado da RTP (estação que, tal como a sua congénere angolana, tem de prestar serviço ao Estado) esteve em Luanda na altura das eleições e de lá falou como se Angola se resumisse à capital (ver «RTP mostra em Luanda o que (não) vale», aqui publicado no dia 5 de Setembro).

Na segunda-feira, dia 6, o mundo foi informado pelo próprio Luís Castro que ele passará a “desempenhar o cargo de Editor Executivo com responsabilidade editorial sobre todos os espaços informativos da RTP”.

O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Provavelmente nada. Se calhar a nomeação estava decidida antes dos trabalhos sobre Angola, pelo que tudo não passa de uma mera coincidência temporal.

De qualquer modo, tal como escrevi há um mês, certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo nas reportagens feitas de Luanda que mais de 68% da população angolana vive em pobreza extrema e que a taxa estimada de analfabetismo é de 58%.

Certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% da população.

Certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

Certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo que o silêncio de muitos, ou omissão, se deve à coação e às ameaças do partido que está no poder há 33 anos.

Certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo que a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres.

Certamente por deficiência minha, nunca o vi dizer ao mundo nada de substancialmente diferente do que o apresentado pelo Jornal de Angola, pela TPA ou pela RNA.

No entanto, se calhar agora que vai “desempenhar o cargo de Editor Executivo com responsabilidade editorial sobre todos os espaços informativos da RTP”, veremos mais algumas coisas sobre a Angola real.

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