quarta-feira, outubro 15, 2008

Jornalistas não entram no Parlamento
(e viva a democracia popular do MPLA)

O presidente da Assembleia Nacional (AN) de Angola garantiu hoje, na abertura oficial da segunda legislatura democrática (isto é um eufemismo) do país, o "empenho" deste órgão no reforço da democracia e alertou os deputados para a responsabilidade que o povo lhes confiou.

Continua a música e a poesia para embalar tolos. Só lhes falta dizer, cantando e rindo.

Num parlamento composto por 220 deputados eleitos a 5 de Setembro, onde o MPLA, há 33 anos no Governo, detém uma maioria qualificada de 191 deputados, Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó" afirmou que o início formal da presente legislatura "é o testemunho da firme vontade e determinação" em garantir a "irreversível normalização constitucional" das instituições do Estado.

Sim. Isso é verdade. A não ser que, nunca se sabe, venham um dia destes dizer que os partidos da oposição estão a bloquear as pretendidas reformas.

Como sempre acontece numa sessão solene de música e poesia, dezenas de diplomatas, membros do clero, militares e antigos deputados foram convidados para assistir à abertura da nova legislatura em Angola.

No entanto, vários jornalistas, incluindo de agências internacionais, entre as quais a Lusa, foram impedidos de entrar no Parlamento com o argumento de que a segurança não tinha autorização para os deixar entrar. É o MPLA no seu melhor. É a democracia no seu expoente máximo.

No seu discurso, chegado posteriormente aos jornalistas, "Nandó", ex-primeiro ministro, deixou um alerta aos deputados, avisando-os que o povo vai acompanhar muito atentamente" a sua acção e desempenho. Acompanhar como, se logo no início os jornalistas tiveram de ficar à porta?

O presidente do Parlamento pediu aos 220 eleitos que sejam "dignos" da "confiança" manifestada pelo povo, que, nas eleições de Setembro, demonstrou a sua "maturidade, experiência e vocação democrática", trabalhando com "disciplina, responsabilidade, justiça, espírito aberto e tolerante". Lindo. Lindo!

Tão aberto e tolerante como o demonstrado para com os jornalistas? Ou apenas para os jornalistas que não têm cartão do MPLA?

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