A África Ocidental está sob ataque dos traficantes de droga, com o crime organizado e o narcotráfico a "constituírem ameaças para a segurança e defesa" dos países, alertaram hoje responsáveis na Cidade da Praia, Cabo Verde. Não é, portanto, por falta de avisos que a praga ganha terreno.
A questão do tráfico de droga começou hoje a ser discutida na capital cabo-verdiana, com a presença de especialistas dos 15 países da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental), terminando na quarta-feira com a aprovação de um plano de luta contra o narcotráfico pelos ministros da Justiça e Administração Interna.
Plano de luta? Esperemos (certamente e mais uma vez, sentados) para ver se há alguém, ou alguma organização, disposta a passar das palavras aos actos.
Hoje, na sessão de abertura, Adrienne Diop, comissária da CEDEAO, salientou que a situação "é grave" e alertou para a "corrupção, intimidação, chantagem e violência" praticada pelos traficantes. Pelos traficantes propriamente ditos e, digo eu, pelos outros que ajudam à festa, embora na sombra.
É por isso que os participantes na conferência da Praia terão de encontrar uma "solução durável para o problema", sendo que, avisou, nos próximos anos, os responsáveis de todos os países serão julgados pelos resultados da reunião destes dias.
Julgados? Alguém será julgado? Ninguém, a não ser os elos mais fracos. Os tubarões da droga, tal como os seus homólogos que têm nas mãos o poder político e militar, nunca serão julgados. Mas, é claro, vale a pena tentar.
Da Praia, disse Adrienne Diop, vai sair um plano de acção regional. Terá de ser "uma solução durável" que ataque rapidamente o problema e que tenha um apoio sustentado da comunidade internacional, como acrescentou Francis Maertens, da divisão de operações da ONUDC (escritório da ONU para o combate à droga e criminalidade).
Marisa Morais, ministra da Justiça de Cabo Verde e anfitriã da reunião, na mesma linha, disse aos participantes que o combate ao tráfico de droga é um desafio que só pode ter sucesso "através de uma acção conjunta, porque o fenómeno ultrapassa fronteiras locais".
"É preciso reafirmar que as ameaças são globais, que o crime organizado já foi exclusivamente um problema interno" e que "os narcotraficantes elegeram a região (ocidental africana) como plataforma privilegiada" de trânsito de droga entre a América do Sul e Europa, disse a ministra.
E acrescentou: "a região oeste-africana está sob ataque. É verdade. Cresce a criminalidade violenta, aumenta o tráfico, as redes (de droga) usam a violência, a intimidação, a corrupção e a chantagem para levar a cabo as actividades criminosas".
Ou seja, disse, mais tráfico leva a mais consumo, a mais violência urbana, mais delinquência juvenil e mais insegurança nas cidades, com "consequências gravíssimas para o bem-estar social", comprometendo o desenvolvimento económico.
Marisa Morais salientou que o combate à lavagem de capitais "é das formas mais eficazes para combater o tráfico", atingindo os narcotraficantes "onde mais lhes dói", nos lucros que conseguem da venda de droga.
É exactamente isso. E por ser exactamente isso é que tudo vai continuar na mesma.
Segundo estimativas da ONU, pelo menos 25 por cento de toda a cocaína consumida na Europa em 2007 (140 toneladas) passou por esta região do Atlântico, apesar de ter aumentado o número de apreensões de droga em Cabo Verde mas também noutros países, como no Benin, na Mauritânia, no Senegal ou na Guiné-Bissau. Portugal e Espanha são os maiores pontos de entrada de cocaína na Europa, diz também um relatório da ONU.
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