quarta-feira, outubro 22, 2008

Em Cabinda ninguém pode contestar
(é comer e calar ou, então, ir dentro)

«Dois Jornalistas da Rádio Comercial de Cabinda (RCC), foram suspensos das suas actividades por terem criticado na antena os moldes actuais na atribuição do prémio provincial de Jornalismo.

João Chico e Mateus Gonçalves, horas antes da atribuição dos prémios, foram intimados que nos «próximos dias vão sentir a mão pesada do Governo provincial por ousarem no seu programa da manha» de sexta-feira, 10 de Outubro, criticarem os «moldes de atribuição do prémio provincial de Jornalismo.» Há quem suspeite que já estavam de «pré-aviso dos resultados e também a pouca vergonha na cedência dos convites para o evento», disse fonte em Cabinda.

Os jornalistas da rádio lamentavam que pessoas alheias à classe «enchessem a sala em detrimento dos jornalistas», apesar de se reconhecerem que os encargos do serem assumidos totalmente executivo provincial, não era necessário que todo o «staff» do Governo e do MPLA fossem prioritários, nesse caso «deveria se atribuir ao evento uma outra designação», considerou.

Realizada a 10 de Outubro no Centro Cultural Chiloango, em Cabinda, a VII edição do prémio provincial de Jornalismo, sob auspícios do Governo local através da direcção provincial de Comunicação Social, teve «como já se previa, muita coisa duvidosa.»

Nesta edição o júri designado atribuiu os prémios por categorias, rádio, televisão e imprensa e «para não variar, aliás um clássico, dividiu o mal pelas aldeias, ou seja, atribuiu todos os prémios, em todas as categorias, aos órgãos de comunicação estatais.»

Para a categoria de rádio o programa em língua nacional foi o distinguido, «mesmo após a suspensão das emissões, por razões óbvias, que decorreram da realização das eleições de Setembro.»

O prémio na categoria televisão foi para a editora da presença de Cabinda no Bom dia Angola. Na imprensa o contemplado foi Pedro João da agência estatal de notícias, Angop, o único da lide dos próximos do Executivo que não beneficiara de viatura durante a campanha eleitoral. Cada um dos contemplados recebeu cerca de 30 mil dólares.

Contra todas as expectativas, quando se esperava uma menção honrosa para a Rádio Comercial de Cabinda, que viu este ano as suas instalações removidas de forma brutal, dado que o terreno onde se situava ser ocupado para a construção da nova sede do partido no poder, e «ter feito tanta bajulação durante a campanha eleitoral», que «beneficiou o autoproclamado repórter do MPLA» naquela estação radiofónica, Silvestre Padi, chefe do Centro de Documentação e Informação da Administração Municipal de Cacongo, recebeu uma viatura «zero quilómetro.»

Menções honrosas foram atribuídas também a Domingos Tiago da secção desportiva da Rádio Nacional de Angola (RNA) em Cabinda, Afonso Sassa da Televisão Pública de Angola (TPA), e por fim a Bernardo Malila Capita do Jornal de Angola, que «para muitos deveria ser o vencedor nesta categoria», mas, «como beneficiara de uma viatura para cobertura da campanha do MPLA, tiveram apenas de o contentar com uma menção honrosa em reconhecimento da sua dedicação efectiva durante o ano».

Nos bastidores Capita exprimira não acreditar que desta vez o prémio lhe tivesse escapado: «dei todo meu empenho para ganhar e estava confiante que o iria conseguir, mas como o juiz decidiu assim, vamos ter que aceitar.»

«Ficou mais uma vez demonstrado que o prémio provincial de jornalismo em Cabinda é uma forma indirecta do Governo satisfazer algumas inquietações de pessoas, devidamente escolhidas a dedo no seio da classe apenas ligados ao serviço público» comentou um jornalista.

Apesar de existir um regulamento pelo qual o júri se deveria guiar na atribuição dos prémios, «a verdade é que tudo continua na escuridão e de edição a edição vai crescendo a insatisfação da classe pelos métodos utilizados para escolha dos melhores.»

«Com tudo isso vai ganhando Pedro Sia, e os seus pares na direcção da comunicação social que vão engordando os seus bolsos com as comissões que ganham na realização destes eventos» comenta o mesmo jornalista.

«Desde a sua instituição em 2001, quando Pedro Neto era responsável pelo sector na província, a iniciativa foi encarada como uma mola propulsionadora da actividade jornalística na província. Mas com este consulado de Pedro Sia, e seus colaboradores, tem pautado por uma conduta de autêntica ditadura... ou alinhas ou sais. O júri comandado por António Manuel Gime, agora vice-governador provincial, não tem sido imparcial dada a influencia que sofre do órgão reitor da comunicação social na província.

«Só nos resta saber se mesma decisão tem ou não anuência do Governador provincial» concluiu.»

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1 comentário:

Anónimo disse...

Gil Gonçalves
patriciaguinevere.blogspot.com/

A caminho de Myanmar.