sábado, outubro 25, 2008

Embora chamado a votar com a barriga
o Povo merece que não se pare de lutar

Começa hoje, na Guiné-Bissau, o que se convencionou chamar de campanha eleitoral para algo a que a comunidade internacional teima em dizer que são eleições. Isto é, algo que pelos votos legitime a ditadura e permita a essa mesma comunidade internacional continuar a dormir descansade e, ao contrário do povo guineense, com a barriga (bem) cheia.

O Ocidente, e neste caso particular da Guiné-Bissau a Europa e sobretudo Portugal, sabe que África teve, tem e continuará a ter uma História de autoritarismo que, aliás, faz parte da sua própria cultura e que em nada preocupa os fazedores da macro-política que se passeiam nos areópagos dos luxuosos hotéis do mundo.

Apesar disso, teima-se em exportar a democracia “made in Ocidente”, sem ver que a realidade africana é bem diferente. Vai daí, pela força dos votos os ditadores chegam ao Poder, ficam eternamente no poder e em vez de servirem o povo, servem-se dele.

Mas será isso democracia? Por que carga de chuva ninguém se lembra que, por exemplo, na Guiné-Bissau as escolhas não são feitas com o cérebro mas com a barriga?

E é neste contexto que Nino Vieira volta a chegar a presidente e, tal como o seu homólogo, mentor e amigo Eduardo dos Santos e por lá vai ficar enquanto quiser.

Ninguém se lembra que Nino Vieira é só por si uma enciclopédia de corrupção? Ninguém vê que Nino foi o único histórico que enriqueceu depois da independência, tornando-se o homem mais rico de um país miserável?

Nino vendeu e comprou as melhores empresas do país (Armazéns de Povo, Socomin, Dicol, Titina Sila, Cumeré, Blufo, Bambi, Volvo, Oxigénio e Acetileno, etc., etc.), tornando-se sócio do presidente Lassana Conté, da Guiné-Conakry para melhor traficar, entre outras riquezas, os diamantes da Serra Leoa.

Recorde-se que o antigo primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Junior, chegou a dizer que “era impossível coabitar com Nino Vieira que não passava de um bandido e de um mercenário que traiu o povo".

Apesar de tudo isto, Nino foi eleito, como agora serão eleitos muitos outros da mesma laia, com os votos dos guineenses que votaram e até dos que não votaram.

Vamos voltar a ver que em alguns círculos eleitorais haverá mais votos nas urnas do que eleitores. Mas o que é que isso importa? Aos observadores (veja-se o recente caso de Angola) apenas interessa que se vote, nem que para isso se chamem os mortos.

Se os votos foram comprados, isso pouco interessa. Se os guineenses votam em função da barriga vazia e não de uma consciente opção política, isso pouco interessa. Se Nino Vieira é um problema para a solução e não a solução do problema guineense, isso pouco interessa.

Para quem vive bem, para quem tem pelo menos três refeições por dia, o importante é que os guineenses votem. Não importa o que vem a seguir, o que acontceu antes e o que está a acontecer agora. Não importa, embora todos saibamos que não vem nada de bom, e para essa conclusão basta ver o que Nino fez durante os muitos anos em que esteve, está e estará no comando do país.

Não será, aliás, difícil antever que o sangue do povo guineense voltará a correr. Mas o que é que isso importa? O que importa é terem votado...

1 comentário:

Anónimo disse...

O que diria Cabral disto tudo? O que aconteceu aos ensinamentos de Cabral? O que aconteceu a um povo tão bem organizado e preparado para se deixar dividir e levar por bandos de bandidos? O que diria Amilcar Cabral disto tudo?