terça-feira, outubro 14, 2008

MPLA reserva à oposição o direito
de fazer muita, e talvez boa, poesia

Os partidos da oposição (que oposição?) no parlamento angolano afirmaram hoje que vão ultrapassar, na nova legislatura, as dificuldades resultantes de uma Assembleia Nacional "totalmente dominada" pelo MPLA, destacando-se na "qualidade das intervenções e propostas".

É bonito. É quase poesia. É uma forma de dizer quanto mais me batem... mais gosto de vocês. Mas, é claro, de poesia, de sonhos, de utopia também se vive. A nova legislatura angolana arranca amanhã, com uma Assembleia Nacional constituída por 220 deputados, sendo a maioria qualificada do MPLA, com 191 deputados, eleitos (é esta a terminologia petrolífera, não é?) nas legislativas de 5 de Setembro.

A oposição será feita por 16 deputados da UNITA, oito do PRS, três da FNLA e dois da ND. Ou seja, uma longa travessia de um não menos longo deserto iniciado há 33 anos e que agora continua por mais quatro. Pelo menos.

O porta-voz da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, disse que o seu partido está consciente do que deverá fazer perante o actual cenário, que considerou não ser norma "para os sistemas democráticos mais avançados".

Ou seja? Está consciente de que vai ficar sentada na beira da estrada à espera de uma boleia. No entanto, o Adalberto tem razão quando diz que esta realidade será sobretudo assustadora “para o angolano comum devido à falta de cultura da aceitação da diferença que o MPLA já demonstrou ter".

Um exemplo que o porta voz da UNITA avança é o do acesso da oposição aos meios de comunicação social do Estado, que, "pelo que foi possível verificar nestes últimos anos, não permite que os angolanos fiquem a saber quais as posições dos partidos da oposição e quais as suas propostas". É isso aí, caro Adalberto.

Então qual será a solução?

Para Tito Chimono, vice-presidente da bancada parlamentar do Partido Renovador Social, a prioridade do partido é "fazer com que a voz do povo seja ouvida". Mais um poeta. Felizmente que os há. Mas, também nesta matéria, poetas só mesmo os do MPLA.

Por sua vez, o presidente da FNLA, Ngola Kabangu, disse que a prioridade da bancada da FNLA serão as questões sociais que afligem as populações.

Ficamos assim a saber que a Oposição está cheia de poetas de grande qualidade. Não lhes faltará, creio, tempo para produzieram as suas obras. Quanto ao país real, esse vai continuar como até aqui: poucos com cada vez mais milhões, milhões com cada vez menos.

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