Na sessão de ontem (ver texto em baixo) de apresentação, no Porto, do livro de Francisco Luemba sobra Cabinda, os jornalistas marcaram posição... pela ausência. O mesmo, com raras excepções, se passou em relação à divulgação do evento.
Ausência que, obviamente, foi tema de conversa entre os presentes, a maioria dos quais não compreende o silêncio da Imprensa portuguesa em relação a Cabinda.
- Onde está a sua apregoada tese de que os jornalistas existem para dar voz a quem a não tem? Perguntaram-me alguns.
Se calhar, digo eu, lendo o que aqui tenho escrito sobre a actual produção de textos de linha branca, será possível perceber o que se passa.
De qualquer modo, aqui fica mais uma tentativa para explicar o que se passa com uma actividade que, como qualquer fábrica de sapatos, é meramente comercial.
Não existe nas linhas de montagem nenhuma autonomia editorial e, ou, independência. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalistas que, sob a conveniente (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra)m transformar em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonistas, sejam políticos, partidários, sindicais ou empresariais.
Basta ver quantos são os supostos jornalistas que, nomeadamente na blogosfera, dizem quem são e mostram a chipala. São muito poucos. A grande maioria prefere o cómodo e barato anonimato. Para que se não saiba que têm as meias rotas nunca se descalçam.
Habituados a viver na selva supostamente civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituídos, vale tudo, os chefes de posto das linhas de produção de textos de linha branca entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de euros de avenças ou similares, é a única lei. E, digo eu, dos Jornalistas esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores.
Força da razão? Claro que não. Até porque em Portugal não existem Jornalistas a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o jornalismo, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas.
Como para mim existe uma substancial diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicação social e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuo a dizer que nesta profissão quem não vive para servir não serve para viver. E é por isso que Cabinda não é notícia. Uma bitacaia no presidente do MPLA teria com certeza muito maior cobertura do que o facto de em Cabinda imperar o terror.
É por isso que os operários dos órgãos de comunicação social lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem.
Infelizmente os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista, jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalista, sindicalista jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora.
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