Se a antiguidade fosse, só por si, sinónimo de competência, a Exponor - Feira Internacional do Porto, seria com certeza não só a principal plataforma de negócios de Portugal como um paradigma do “comporta-mento ético assumido em todas as áreas de intervenção e do apoio a projectos e instituições representativos da comunidade”.
Mas como não é, por muito que isso custe à Associação Empresarial de Portugal - Câmara de Comércio e Indústria, tende algumas vezes a preferir ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. Ou seja, e contrariando os seus princípios, em vez de afirmar nega a capacidade de intervenção política e institucional, que deveria contribuir para o exercício sustentado da economia.
Em vez de dinamizar o movimento associativo pelo reforço da sua representatividade e pela oferta de serviços às empresas, dá alguns exemplos de ancilose que espero seja esporádica mas que temo tenda para o crónico.
Não sei se é resultado de viciação típica de um longo exercício de poder ou, eventualmente, de uma amedrontada percepção de que, afinal, ninguém é dono da verdade. Seja como for, a Exponor deveria existir para servir os agentes económicos e não para deles se servir.
Um vasto e relevante grupo de empresários do sector do mobiliário português procurou junto da Exponor que esta alterasse a periodicidade da feira Export Home para bi-anual.
Segundo esse grupo, o actual figurino anual já não corresponde às necessidades nem dos fabricantes nem dos comerciantes, acarretando isso sim custos desnecessários para os primeiros. Dizendo acreditar “que a mudança de periodicidade iria potenciar uma melhoria da qualidade dos produtos expostos, ser mais motivadora para os profissionais que a visitam”, esbarram com uma Exponor dogmática que parece ter metido, tal como outros meteram outras coisas, a democraticidade numa qualquer gaveta.
Ao contrário de outros tempos, a Exponor puxou dos galões, esqueceu o badalado “comportamento ético assumido em todas as áreas de intervenção”, e lavrou a sentença mesmo antes de ouvir as alegações das partes.
Um pouco à revelia de um Estado de Direito, decidiu que até prova em contrário quem dela discordar é culpado.
Vai daí, todos os que, mesmo tendo igualmente um “comportamento ético assumido em todas as áreas de intervenção”, não alinhem com o que a Exponor entende ser a única verdade, são proscritos.
Assim, na impossibilidade de exilar os que pensam de maneira diferente, a Exponor resolveu começar não só por atacar as empresas que contestam a periodicidade das feiras como, numa birrinha típica de imberbes executivos, afastar os que – no seu mais legítimo, ético e assumido papel – entendem dar voz a quem a não tem.
A posição do "Movimento pelo Futuro do Mobiliário" foi publicada no jornal Mobiliário em Notícia. Reagindo a esse facto, a rapaziada da Exponor decidiu proibir a distribuição habitual do jornal no certame Fimap/Ferralia 2008.
Não creio que o jornal em questão esteja muito preocupado, mesmo sabendo que a rapaziada imberbe poderá ter pensado, ao estilo dos manuais estalinistas, confiscar os jornais usando, quem sabe, alguém com farda.
É, contudo, um grave e mau exemplo de quem (a Exponor) terá adquirido os direitos consuetudinários sobre a verdade mas que, certamente por tacanhez ou desonestidade intelectual, não reparou que o prazo de validade desses direitos já caducou há pelo menos 34 anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário