Segundo o Semanário Angolense, só nos primeiros três meses deste ano entraram em Angola mais de 50 mil portugueses. Pelos vistos, muitos há que até dizem terem nascido por lá, mesmo nunca lá tendo estado.
Como diz o meu amigo Gil Gonçalves, “quando a cabeça não dá para mais nada, a única saída é embarcar para Angola e espoliar mais uns pretos”.
Mas, diga-se, a culpa não é só dos portugueses de hoje que, ao contrário dos de ontem, procuram sacar tudo o que podem. Também é dos angolanos que colocaram os de ontem, muitos dos quais deixaram mesmo o cordão umbilical em Angola, ao mesmo nível dos de hoje, ou muitas vezes a um nível bem mais baixo.
De acordo com o jornal, “apesar de já praticamente ser impossível disfarçar essa presença massiva de luso-cidadãos em Angola, estranhamente, contudo, eles nunca são mencionados nos balanços do Serviço de Migração e Estrangeiros sobre a expulsão de expatriados”.
E estranha-se porquê?
Porque “estas operações, em regra, atingem somente os imigrantes de outras nacionalidades que não a portuguesa, nomeadamente cidadãos congoleses e oeste africanos, bem como alguns chineses”.
“Aos outros imigrantes é exigido o cumprimento da lei, mas aos portugueses não. Muitos até falsificam documentos e se dizem naturais de Malange – maioritariamente «nasceram» em terras da Palanca Negra –, Huíla, Benguela, mesmo sem nunca lá terem estado. É urgente investigar e descobrir quem promove e protege essa invasão silenciosa de portugueses,» diz o Semanário Angolense.
É verdade que são aos milhares os portugueses africanos que agora nasceram de gestação espontânea, uma espécie de mercenários que nada têm em comum com muitos outros portugueses de outrora, esses sim africanos de alma e coração.
Os novos descobridores vão para a África rica (caso de uma parte de Angola) sacar tudo o que for possível e depois regressam à sua normal e tipificada forma de vida, voltando a ter a porta sempre fechada aos africanos.
Com a conivência consciente de Eduardo dos Santos, que não dos angolanos, Portugal aposta tudo o que tem (lata) e o que não tem (dignidade) nos muitos mercenários que têm a tal porta blindada e sempre fechada, remetendo para as catacumbas todos aqueles portugueses que sempre tiveram a porta aberta.
Como é que se vê a diferença? É simples. A grande diferença é que os portugueses europeus, os que agora aceleram na tentativa de chegar à cenoura na ponta da vara de Angola, sempre consideraram (quiçá com razão) que até prova em contrário todos os estranhos são culpados.
Já os portugueses africanos, os que deram luz ao mundo, os que choram ao ouvir Teta Lando, Elias Dia Kimuezo, Carlos Lamartine ou os N’Gola Ritmos, entenderam que até prova em contrário todos os estranhos são inocentes.
Em África, os portugueses africanos aprenderam a amar a diferença e com ela se multiplicarem. Aprenderam a ser solidários com o seu semelhante, fosse ele preto, castanho, amarelo ou vermelho. Aprenderam a fazer sua uma vivência que não estava nas suas raízes.
Na Europa, os portugueses aprenderam a desconfiar da diferença e a neutralizá-la sempre que possível. Aprenderam a ser individualistas mesquinhos e a só aceitar a diferença como exemplo raro das coisas do demónio.
Com o re(in)gresso de milhares de portugueses africanos ao Portugal europeu, a situação alterou-se apenas por breves momentos. Tão breves que hoje, 34 anos depois da debandada africana, quase se contam pelos dedos de uma mão os que ainda se assumem como portugueses africanos.
Isto é, muitos dos portugueses europeus que foram para África tornaram-se facilmente africanos. No entanto, ao re(in)gressarem às origens ressuscitaram a velha mesquinhez de um país virado para o umbigo, de um país de portas fechadas. Voltaram a ser apenas europeus.
Nessa mesma leva vieram muitos portugueses africanos nascidos em África. Esses não re(in)gressaram em coisa alguma. Mantiveram-se fiéis às suas raízes mas, é claro, tiveram (e ainda têm) de sobreviver. Apesar disso, só olham para o umbigo de vez em quando e as suas portas só estão meias fechadas.
Acresce que muitos destes acabaram por constituir vida em Portugal, muitos casando com portugueses europeus. Por força das circunstâncias, passaram a olhar mais vezes para o umbigo e a porta fechou-se quase completamente.
Chega-se assim aos filhos, nados e criados como “bons” portugueses europeus. Estes só olham para o umbigo e trancaram a porta. Por muito que o pai, ou a mãe, lhes digam que até prova em contrário todos (brancos, pretos, amarelos, castanhos ou vermelhos) são inocentes, eles já pouco, ou nada, querem saber disso.
Por força das circunstâncias, os portugueses africanos diluíram-se no deserto europeu, foram colonizados e só resistem alguns malucos que, por força dos seus ideais, admitiram que o presente de Portugal poderia estar na Europa, mas sempre e desde sempre tiveram a certeza que o futuro estava em África.
4 comentários:
O meu filho é vítima do racismo, do desprezo, do escárnio, da incompetência desses bandidos, dessa corja, dessa pocilga, dessa ciganada portuga. Incrível como esses porcos chafurdam, grunhem: lá em Portugal despedimos à mínima coisa. Vai sair carne picada.
Não é verdade que os portugueses que foram para África tenham sido um grande exemplo de solidariedade e que estavam dispostos a judar o próximo independente da cor da pele. Só (grosso modo)(entre)ajudavam os brancos! Infelizmente a maioria dos habitantes das maiores cidades vivia "sem ver os negros" e usava a técnica da avestruz, enterrar a cabeça. Quanto se deu o 25 de Abril já era tarde. Sugiro a leitura do livro "Angola, Terra Prometida" de Ana Sofia da Fonseca, Ed. Esfera dos Livros, Lisboa, 2009, que a meu ver é uma descrição fidedigna dos últimos 20 anos da Angola colonial.
Não pense que digo isto com gozo,muito pelo contrário é com dor de alma que o coloco aqui. E não esqueço o ditado Angolano que diariamente me passa pela cabeça, tão grandes são as saudades, "dor de desgosto é pior que dor de facada".
É evidente que os brancos angolanos ao "voltarem" para o Puto, ainda por cima a contra-gosto, se marimbaram para os habitantes da antiga Metrópole. Foi só estabelecerem-se e que se lixem os outros. No fundo fizeram o mesmo que já faziam em África, "não olharam para o lado". Tivessem, os portugueses que foram para Angola a partir das décadas de 40 e 50, assim como os brancos nascidos em Angola, "olhado para o lado", e talvez no pós 25 de Abril de 1974 não tivesse havido tantos rancores por parte de negros e mulatos. O resultado disto tudo é que actualmente uma minoria de "Angolanos genuínos", copiando as antigas taras coloniais, tomou o poder em Angola e também lá vai tratando dos seus "esquemas" sem olhar para o lado. E os actuais "esquemas" passam pela cooperação com uma nova rapaziada do Puto, que repetindo os erros históricos, vai para lá sem "olhar para o lado".
Só que agora não existe a tropa tuga nem os sipaios para os protegerem!
Qualquer dia...
Sinceramente, esse é um típico texto de um paternalista português. Consigo até enxergar a frase-modelo dessa gente: "Eu racista?? Nunca!! Até tenho uma neta de cor"
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